A crise hídrica pode comprometer a retomada da indústria, que mesmo com a economia ainda enfraquecida, começava a se beneficiar da recuperação do mercado internacional. Indústrias que consomem muita eletricidade, como as exportadoras de matéria-prima e insumo para infraestrutura, vinham demandando energia em volumes equivalentes aos do período pré-pandemia, em uma sinalização de que 2021 seria um ano melhor. Mas, com os baixos reservatórios das hidrelétricas e o encarecimento do preço da eletricidade, essas empresas traçam, agora, planos de contingência, que devem ter consequências operacionais e financeiras.

A visão de especialistas e representantes do setor industrial é de que a indústria vai experimentar um período de compressão das margens de lucro, suspensão dos investimentos e repasse da alta dos custos aos clientes. Dependendo da dimensão do problema, a crise pode levar a uma queda da produção.

"Alguns setores estavam crescendo ancorados na retomada de economias relevantes, como dos Estados Unidos, de países da Europa e China", afirmou Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Indústrias eletrointensivas estão assistindo à recomposição dos preços (de seus produtos) no mercado internacional e teriam perspectivas favoráveis, se elementos internos de incerteza não estivessem prejudicando esse processo."

Ele avalia que 2021 é um ano de recuperação, mas ainda com obstáculos. Por isso, qualquer ameaça é suficiente para abalar as projeções de crescimento.

"Não sabemos ainda o tamanho do problema. Mas é de se esperar que a crise hídrica comprometa investimentos, mesmo em setores que estão com a demanda aquecida", explica Cagnin. "O ciclo de crescimento do mercado internacional para os eletrointensivos não deve ser curto. Da mesma forma, qualquer solução para a crise hídrica tem que ser de longo prazo."

O ensaio de retomada era visível em alguns indicadores. Um deles é o consumo de energia, que na indústria, cresceu 22,5% em maio em relação ao mesmo mês do ano passado. Essa alta foi 10,8 pontos porcentuais maior que a média de todos os setores, que inclui também comércio e residências. Foi a demanda industrial mais elevada para um mês de maio desde 2014, segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Em sua resenha mensal, divulgada no último dia 30, a entidade destaca que as estatísticas são afetadas por uma base de comparação favorável, já que, em 2020, os prejuízos provocados pela disseminação do coronavírus eram ainda mais devastadores do que os atuais. Mas a EPE atribui esse crescimento também ao bom desempenho do setor industrial, sobretudo entre os dez segmentos mais eletrointensivos.

Os maiores consumidores

Em maio, a metalurgia liderou o ranking dos maiores consumidores de energia, impulsionada pelas siderúrgicas e produtoras de alumínio primário, com expansão de 18,3% na comparação com maio do ano passado, principalmente no Pará e em São Paulo. Em seguida aparecem os fabricantes de produtos químicos, puxados pelo segmento de cloro-soda da região Nordeste, com alta de 24,3%. Na terceira colocação veio o setor automotivo, cujo consumo cresceu 84,1%.

As metalúrgicas ocupam a liderança porque consumiram o maior volume de energia, respondendo por 24% da demanda do setor industrial. Já o setor automotivo foi muito favorecido pela base de comparação.

"Desde outubro, estamos com custos elevados, que podem crescer ainda mais agora, com a contratação de novas fontes de geração de energia", diz Fillipe Soares, diretor Técnico da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace). "Não há dúvida de que isso vai se refletir na compressão de margens, num aumento dos preços e em inflação. Esse não é um problema setorial. Afeta toda população, o custo de tudo."

Ele avalia que a comunicação do governo sobre as medidas que irá tomar para enfrentar a crise hídrica é o gatilho que fará com que as empresas definam seus planos de contingência. "Como isso vai se refletir em cada atividade, é difícil de avaliar", afirmou.
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